domingo, 17 de maio de 2015

Resultado Promoção Cartas de Amor aos Mortos

Oi gente!

Muito obrigado a todos que participaram.
Foi lindo demais, muito amor, risadas e lágrimas.
E muitas lições aprendidas.

O ganhador foi o Alex Alexandre Costa ( em breve posto a fotinho da entrega do livro aqui)

Segue a carta dele!

Comentem!

Beijos!

1998, Março

Criança flor, sorrisos, paz, alegria, brincadeiras, abraços grátis, paixões eternas... Doce Infância.

A...., negra linda, sorriso doce. Uma menina que eu amei conhecer, minha colega de sala de aula. Sentávamos juntos todos os dias. Sua mãe vendia geladinho em casa. Lembro que era bem gostoso, matava a sede. Éramos crianças sem pecado, sem crimes. No lanche brincávamos juntos de todas aquelas brincadeiras que crianças brincam ate cansar, estar ao seu lado era maravilhoso, vivíamos cheio de alegrias, acho que esse era o efeito de cada vacina que eu tomei quando era criança. Nossos olhos brilhavam a cada dia, a cada momento juntos, uma paixão de infância que adormeceu comigo.

Lembra quando a nossa professora da terceira serie ficava chamando a nossa atenção? Na hora ficávamos quietinhos, mas depois lá estava nós conversando igual duas matracas  sem fim. Arlete, assim se chamava nossa professora, eu a adorava, cabelos cacheados, branca, estatura baixa. Tinha um poder na voz, acho que ela seria bom como sargento do exercito. Final da aula ia junto até a rua da sua casa, eu a deixava em casa, e partia para minha. Contava os minutos, as horas para chegar outro dia e ver ela de novo. Dentro de alguns dias conheci suas primas que sem eu saber era minhas vizinhas. Eu morava no morro e elas embaixo numa esquina. Era uma diversão eu me sentia o palhaço no meio do circo, aquilo sim que era vida, rir até doer a barriga, comer a merenda quantas vezes eu queria, descer e subir a escada da escola até cansar as pernas, correr no corredor, sem pressa de crescer, não querer ser adulto.

As horas foram passando com ela os dias e os meses. Aqui  estávamos nós estudando, se divertindo, sentia em A.... um amor enorme, maior que tudo, minha amiga para sempre. Terminamos a terceira série, final do ano, notas bimestrais, aprovações e despedidas. Vou ser sincero eu nunca gostei de despedidas, um adeus pode ser para sempre, me emociono fácil. Acredito que cada pessoa que você conhece você cria uma corrente, mesmo você não gostando dela, vai ter algo que vai te tocar. Vai ser levado com você até o fim de sua existência. Tudo se acabou, um ano novo iria chegar, assim como o sol depois de um dia chuvoso, vem clareando tudo.  Distanciamo-nos, pois ela foi estudar em outro turno, e eu não a via mais com tanta freqüência. Mas lembrava dela, sua imagem passava na minha cabeça como um trailer de um filme. Via seu nome escrito nos cadernos do ano passado eu se lembrava de tudo dos momentos inesquecíveis do seu lado.  Sem A....., a ausência veio como dor de cabeça sem fim, veio como dias nublados, triste. Tudo era estranho, vazio em mim e nos corredores da escola. As vezes nos encontrávamos na rua, no mercado do centro do bairro, ela continuava a mesma. Fiz novas amizades, mas ela era insubstituível. Depois de um tempo meus pais se separaram, junto com eles eu também separei dos meus irmãos escolhi morar com minha mãe na casa do meu avô. Foi trágico, eu nunca quis isso para mim, via meus colegas falando de separação, alguns moravam com os avós outros com o pai, sentia arrepios a cada história. Faltou maturidade dos meus pais,  pois não souberam ensinar a nós filhos a ter uma reação a essa nova fase de nossas vidas. Eu sofri vendo minha mãe chorando todas as noites, e sofria vendo meus irmãos sozinhos em casa tendo que se virar com os fazeres diários e meu pai trabalhando o dia inteiro.

Depois de um tempo mudamos de cidade, e quem eu deixei lá até hoje estão comigo para todo o sempre. Com o passar dos dias via eles nos meus sonhos e delírios, felizes, brincando na rua, realizando sonhos junto com suas famílias.

Um dia através de um telefonema soube que A.... tinha morrido num acidente de moto, perto de uma escola, não aquela que estudamos juntos. Ela já tinha constituído família. Ao desligar fiquei sem chão, arrepiado, fui para um canto e fiquei horas pedindo a Deus que cuidasse dela, que um dia eu quero encontrar ela para dar um abraço que eu não dei quando fui embora. Lagrimas que antes surgiam em cada momento feliz que passei com ela, veio com toda vontade, chorei. Quis vê-la nos meus sonhos, mas não consegui. É triste saber que uma pessoa que você amava morreu. Uma amizade também é um relacionamento, de amor e seriedade eu posso dizer que tive tudo isso com ela. 
A morte é traiçoeira, leva pessoas inocentes, leva sonhos e desejos, leva com ela vidas que ainda nem sorriram para esse mundo azul e verde. Única coisa que vence a morte é o amor. Por isso temos que viver até cansar, gozar a vida no ultimo volume. Desapegue-se de coisas que não te levam a nada como o dinheiro e a fama, no final vamos ser pó, e lembranças daqueles que vamos deixar.


‘’Na minha imaginação se passam filmes com suas alegrias, passam caminhos floridos, nuvens de algodão doce e perfumes das rosas, e você está ali sentada embaixo de um pé de maça. A...., onde você estiver, você vai estar bem, espero nos encontrar do mesmo jeito que te conheci no primeiro dia de aula na terceira série.’’

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